Senha (homenagem à Adélia Prado)
por Daniel Baz dos Santos
eu sou um homem com chuva e chão
curvas íngremes em um sorriso contra o muro
torço pelo sol toda manhã
me cerco de palácios que ardem
marcando meu manto da fumaça dos versos
máscaras que a madrugada forja com vinho e sêmen
penetro clandestinamente o alfabeto
sua tradição de distância e semente
e colho, na hipótese, um minuto da flora
sou homem com H de Hímen!
eu sou homem sem espada
a cabeça que eu apoio nos ombros
é a própria cabeça por mim degolada
sobre meus escombros
não tenho farol nem martelo
não se encontra ferramenta em meu armário
vou gerar um pão sem farelo
vou colher uma flor sem horário